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Racismo, Violência e Luto: A Morte da População Negra no Brasil

Racismo, Violência e Luto: A Morte da População Negra no Brasil

PROALU - Programa de Acolhimento ao Luto

Por Beatriz Maximino

A morte e o luto da população negra no Brasil estão profundamente enraizados no contexto histórico de racismo estrutural e desigualdade social. O processo de escravização, iniciado no século XVI, e a marginalização subsequente dos descendentes de africanos criaram condições de vida precárias para a população negra, resultando em altas taxas de mortalidade. Esse histórico é evidente nas estatísticas contemporâneas que mostram que pessoas negras são desproporcionalmente afetadas pela violência, principalmente a violência policial, bem como pela falta de acesso adequado a cuidados de saúde e serviços básicos (Nascimento, 2016). Assim, o luto nessa comunidade não é apenas um evento individual, mas carrega o peso de séculos de opressão e exclusão.

No Brasil contemporâneo, a juventude negra é a principal vítima da violência, especialmente nas periferias urbanas. Segundo dados do Atlas da Violência (2020), 75,7% das vítimas de homicídio no Brasil são negras. Essa realidade gera um ciclo de luto contínuo nas comunidades negras, onde mães e familiares frequentemente enfrentam a perda de filhos jovens, mortos em operações policiais ou em decorrência da violência estrutural. O luto, nesses casos, é amplificado pela sensação de injustiça e impunidade, já que muitas dessas mortes não são investigadas de forma adequada (Cunha, 2021). O conceito de “genocídio da população negra” tem sido utilizado para descrever essa realidade, em que a morte precoce de jovens negros é tratada com indiferença pelas instituições estatais.

O racismo institucional também desempenha um papel crucial na forma como a sociedade lida com a morte da população negra. Segundo o antropólogo e pesquisador Abdias Nascimento (1989), o racismo no Brasil opera de maneira velada, mas profundamente enraizada nas instituições, o que se reflete na falta de atenção às mortes de pessoas negras. Além disso, há uma desumanização dessas vítimas, que muitas vezes são retratadas pela mídia como associadas à criminalidade, o que reforça o estigma e dificulta o luto público. Essa invisibilidade institucional contribui para a naturalização da morte de pessoas negras, exacerbando o sofrimento das famílias e comunidades afetadas.

Além do aspecto social e político, o luto da população negra também possui uma dimensão cultural e espiritual significativa. As tradições afro-brasileiras, como o Candomblé e a Umbanda, desempenham um papel importante nos rituais de morte e luto, proporcionando um espaço para a expressão da dor e da saudade de forma coletiva. Como argumenta Mbembe (2018), a experiência da morte nas culturas afro-diaspóricas é marcada por um forte sentido de comunidade e ancestralidade, onde o luto não é apenas um momento de perda, mas também de resistência e de reafirmação da identidade negra. Esses rituais oferecem uma forma de reequilibrar o impacto devastador da violência estrutural e ajudam a fortalecer a coesão comunitária frente à adversidade.

 


Referências:
Cunha, E. S. (2021). Violência policial e genocídio da população negra no Brasil: uma análise crítica. São Paulo: Editora Unesp.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). (2020). Atlas da violência 2020. Brasília: IPEA.
Mbembe, A. (2018). Necropolítica. São Paulo: N-1 Edições.
Nascimento, A. (1989). O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. São Paulo: Perspectiva.
Nascimento, S. G. (2016). Racismo e desigualdade social no Brasil contemporâneo. Salvador: Edufba.

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