O luto por animais de estimação: dor silenciada.
PROALU - Programa de Acolhimento ao Luto
Por Astrit Sánchez Díaz e Renata Barizon.
“Os animais de estimação dão estrutura e sentido à nossa vida, diminuem os nossos sentimentos de ansiedade, estresse e solidão e aumentam o nosso bem-estar”.
As pessoas que tem animais de estimação, mantém com esses um vínculo muito forte e semelhante ao relacionamento com uma pessoa, os pets lhes oferecem sentimentos de segurança, bem-estar e afeto. Nesse sentido, perder um animal de estimação é, na maioria das vezes, uma experiência muito intensa de tristeza.
As reações diante da perda de um animal são bem diferentes entre as pessoas, mas quase sempre envolve um processo de luto. O luto é uma reação natural experimentada após alguma perda significativa para nós e o rompimento de um vínculo importante. Tem como função principal a readaptação à nova realidade sem a presença daquilo que foi perdido.
Quando ocorre a morte de um animal de estimação, a rotina do seu cuidador sofre grandes mudanças, pois ficam muitos momentos vazios no dia a dia. Aquele tempo dedicado a alimentar o pet, dar-lhe banho, brincar e passear com ele etc., não acontece mais e deixa mais perceptível a ausência do animal. O falecimento do pet não diz respeito somente à sua perda física, mas também ao rompimento da convivência, da rotina, do estilo devida e todo o que o animal representa na vida do cuidador. Os rituais de despedida são uma parte fundamental do luto, pois permitem vivenciar o luto e colocam lugar, nome e forma para a dor da perda do pet.
O processo de luto pela morte de um animal de estimação não é muito aceito socialmente. Mesmo que nos últimos anos esse cenário vem mudando muito e cada vez mais é abordado mais abertamente, ainda não é um luto reconhecido pela maioria das pessoas. Com bastante frequência a morte de um pet é desconsiderada por quem está à nossa volta. No trabalho e nas escolas não é aceito faltar uns dias após a morte de um animal de estimação e muitas vezes não é um tema abordado pelos empregadores e professores. Ademais, nem sempre os amigos e familiares estão disponíveis para acolher e compreender o sofrimento e a tristeza que muitas vezes acompanham o processo de luto.
Pode-se dizer, então, que o luto por animais de estimação é conceituado como um luto não reconhecido ou não autorizado. “(…) esse tipo de luto é um tema considerado tabu quando comparado ao luto por morte, pois é reforçado pelo não reconhecimento dos familiares e da sociedade diante de uma perda. Esse tipo de luto, normalmente, não é validado, impedindo que a dor seja expressa e, dessa forma, reforçando que o sofrimento permaneça mudo”.
Essa realidade pode levar o enlutado à não manifestação do seu processo de luto e ao encobrimento dos seus sentimentos. É necessário abordar a importância de expressar os sentimentos despertados pelo luto e buscar ambientes e pessoas propícios para isso. Aqui cabe aclarar que cada pessoa vai vivenciar o processo de luto de maneira única e, por isso, é imprescindível que cada um faça o que fizer mais sentido na sua perspectiva pessoal e social.
Cada luto é único e é vivido de maneira diferente. Porém, há alguns sentimentos que são comumente encontrados nas pessoas que estão neste processo. A tristeza é o sentimento mais vivenciado no luto e quase sempre é expresso por meio do choro. Solidão, saudade e vazio também são muito recorrentes e dizem respeito à falta que sentimos daquilo que não temos mais. Ademais, podem aparecer sentimentos de desamparo, raiva, culpa, impotência e até alívio.
Quando o luto não é manifestado e esses sentimentos tão variados não são expressos da maneira correta, é provável que o enlutado não consiga se readaptar à nova vida sem o animalzinho e retomar as atividades do dia a dia. Nesse sentido, o acompanhamento com um psicólogo que entenda de luto é fundamental. O cuidador poderá se expressar abertamente e tratar os sentimentos, as lembranças e experiências relacionadas ao animal de estimação e à sua morte, podendo ressignificar a perda e reestruturar a vida.
BIBLIOGRAFIA:
VIEIRA, Márcia Núbia Fonseca. Quando morre o animal de estimação: um estudo sobre luto. Psicol. rev. (Belo Horizonte), Belo Horizonte, v. 25, n. 1, p. 239-257, jan. 2019. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167711682019000100014&lng=pt&nrm=iso Acessos em 26 mar. 2022.
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