E o tempo passou…
PROALU - Programa de Acolhimento ao Luto
Ilustrador André Marques
Por Louisanne Agnes ´Sennyey Sanchez
Em quantos momentos de nossas vidas nos deparamos com esse fato… o tempo passou! E o tempo passa, sem perguntar, sem avisar, sem controlar, ele simplesmente passa. Como as estações do ano, nosso verão se encerra para dar lugar ao outono que oferece espaço para o inverno que permite a primavera florir e receber novamente o verão.
Assim é a vida, feita de ciclos, períodos, vidas, histórias, memórias – TEMPO.
Falar sobre temas como o envelhecimento, morte e luto pode ser um grande desafio, mas também uma enorme oportunidade de conversas, dúvidas, questionamentos, protestos e acolhimento. Afinal, quem nunca protestou ou se assustou quando se deu conta que aquela pessoa amada está envelhecendo?
Olhar para o envelhecimento do outro é também a inevitável constatação de que o tempo está passando para nós também. Aí vem o desafio. Falar das nossas dores, inseguranças e inquietudes com uma criança pode não ser fácil, mas pode ser a chance de compartilhar ideias, percepções, medos e angústias. Falar sobre nós, enquanto humanos, nos aproxima e principalmente, valida o que a criança está sentindo.
A criança é naturalmente curiosa, atenta e observadora, mas deixá-la imersa em suas incertezas pode gerar sofrimento, sentimento de desproteção e insegurança. Deixar a criança as margens de seus questionamentos sufocada pelo silencio como se ela não estivesse entendendo que algo mudou, é devastador. Poder abrir diálogos e conversas francas, mesmo não tendo respostas exatas, permite com que a criança expresse o que pensa e sente, e assim, sentir-se protegida e segura. O mais importante é que a linguagem usada seja apropriada e condizente com sua idade e que ela seja ouvida e acolhida, independente do que ela trouxer. O fundamental é que ela encontre um espaço e um ambiente que suporte, respeite e acolha suas perguntas, tristeza, angústia e por vezes – a saudade.
Poder falar abertamente sobre o envelhecimento é também falar diretamente sobre a vida, a morte e principalmente, sobre o amor.
Louisanne Agnes ´Sennyey Sanchez – Psicóloga clínica especialista em perdas, luto e psicologia das emergências. Membro da equipe de emergências do Quatro Estações Instituto de Psicologia. Autora do livro “E o tempo passou…”.