A literatura como ferramenta no luto infantil
PROALU - Programa de Acolhimento ao Luto
Por Louisanne Agnes ´Sennyey Sanchez
Como conversar sobre morte com uma criança? Pergunta que reverbera e que ecoa a angústia relacionada a uma temática ainda tão tabu, tão desafiadora que é falar sobre adoecimento e finitude com crianças e adolescentes.
E quando pensamos em perdas e lutos não validados socialmente? Aquelas diversas experiencias inevitáveis da vida e que inúmeras vezes são silenciadas ou não legitimadas. O avô que envelhece, aquele professor que adoece, aquele cachorrinho amado que passa a ter tantas limitações, aquele bichinho de pelúcia que se perdeu em uma enchente, o amigo da escola que muda de cidade, o irmão que vai para uma universidade, pais que se separam, e tantas outras.
Esta é a contribuição que a literatura infantil pode ter em todo esse processo de compreensão das crianças no que se refere a perdas, morte e luto. A criança naturalmente transborda curiosidade, dúvidas e muitos questionamentos; deixá-la no silêncio no que tange a perda é deixá-la no vazio de suas fantasias, medos e angustias. A verdade sempre deve ser a melhor escolha e decisão, por mais desafiadora e difícil que a situação seja. Diálogo claro e franco, através de informações honestas e reais promove segurança e comunica a criança que ela é capaz, apesar da dor, de enfrentar aquela experiencia. Esclarecer dúvidas, oferecer respostas, acolher os sentimentos são estratégias preciosas na condução da comunicação, respeitando as capacidades cognitivas e emocionais da criança.
Através de histórias, contos e da literatura infantil é possível favorecer a comunicação aberta sobre as mais diversas temáticas. De forma muito sensível e delicada podemos abordar temas que nos são tão caros. A leitura nos provoca sensações, vivencias e sentimentos diversos, por isso ler para o publico infantil nos permite acessar medos, tristezas, alegrias, ansiedade, solidão, alívio da dor e tantas outras emoções. Desta forma, a literatura infantil oferece ao público estratégias de enfrentamento para compreender o mundo através de projeções e identificação com as vidas dos personagens, levando-as de forma mais leve e com uma linguagem mais acessível aos mais diversos temas. A leitura tem o poder de auxiliar a ressignificação e elaboração da situação vivida.
Temos que diluir o mito em nossa cultura, em que falar sobre temáticas difíceis como morte, adoecimento, perdas e luto, devem acontecer apenas quando o fato está posto. Difundir e propagar essa temática é necessária! Acredito que a proposta é trazer assuntos desafiadores, porém humanos, para o “centro da sala” e tornar essas conversas naturais e menos ameaçadoras. As perdas são inerentes ao viver. Nascer e morrer é essencial e natural a nossa condição humana.
Falar sobre finitude é falar sobre a vida, sobre o vínculo que nos é importante – é falar sobre o amor.
Louisanne Agnes ´Sennyey Sanchez – Psicóloga clínica especialista em perdas, luto e psicologia das emergências. Membro da equipe de emergências do Quatro Estações Instituto de Psicologia. Autora dos livros “E o tempo passou…”, “A máquina do tempo” e “Ficará tudo bem”.