O luto tem diversas faces
PROALU - Programa de Acolhimento ao Luto
Autora: Camila Cardoso de Oliveira
Quem já perdeu uma pessoa amada sabe que a morte trás muito mais perguntas do que respostas.
Fomos ensinados a não pensar sobre a morte e até evitar assuntos relacionados ao fim da vida, e infelizmente esse comportamento torna este evento ainda mais doloroso e sofrido.
A verdade é que não temos o costume de falar sobre essas questões, ninguém gosta de falar sobre a morte não é mesmo?
Se estão todos bem a morte nunca vai ser assunto, imagina quem vai usar falar sobre a morte em uma festa de família, uma mesa de bar ou qualquer outro encontro onde as pessoas se reúnem para falar de coisas boas, a morte definitivamente não é assunto.
Mas se estamos vivendo um momento delicado, pelo adocicado de uma pessoa amada por exemplo, o assunto também não entra em pauta pois nesse momento nossa atenção está voltada para recuperação de quem amamos.
Não há espaço para este assunto em nossas vidas, fica bem claro que este assunto “morte” nunca entra em pauta, pelo contrário é um tema que evitamos ao máximo falar.
É um grande tabu falar sobre a morte.
Você concorda?
Por consequência lógica também não se fala sobre tudo que envolve esse momento, principalmente as questões burocráticas, estas por sua vez são totalmente desconhecidas, até que infelizmente precisamos lidar com elas.
O assunto morte é um desconhecido para a grande maioria das pessoas, não existe uma busca por conhecimento sobre o que envolve a morte, o morrer.
E infelizmente no momento de maior dor, quando não se tem forças para nada a vida exige que as decisões mais difíceis sejam tomadas.
É nesse momento que nos deparamos com a necessidade de falar sobre esse assunto, e mais do que falar, é preciso lidar com a dor de perder quem amamos e ao mesmo tempo buscar forças para resolver as questões burocráticas que envolvem o luto.
É claro que não estamos querendo dizer que o simples fato de quebrar esse tabu de falar sobre a morte no decorrer da nossa vida, seja a chave para aliviar a dor de perder uma pessoa amada. Longe disso, perder uma pessoa amada vai doer sempre e não existe forma de evitar essa dor.
Mas a reflexão que queremos trazer aqui é que se nós não podemos evitar a dor de perder quem amamos, nós podemos ao longo da vida organizar ao máximo as burocracias que envolvem o morrer, pensar sobre o fim da vida também é um gesto de amor com quem fica.
Como lidar com as burocracias diante da dor avassaladora de perder uma pessoa amada
As questões burocráticas que acompanham o luto são sem dúvidas uma camada extra de dor e sofrimento para quem já está vivendo um momento tão difícil.
Ninguém está preparado para lidar com a morte de um ente querido.
Mas infelizmente a vida nos coloca nessa situação, sem mandar aviso, somos apenas jogados dentro dessa experiência.
Como ter forças para conseguir suportar essa dor e resolver as questões burocráticas que precisam ser resolvidas?
Nesse momento de luto é extremamente difícil pensar com clareza a respeito das questões burocráticas, estamos imersos na dor.
Encontrar informações sobre como proceder nesse momento se torna uma tarefa extremamente desgastante para quem já está com seu emocional totalmente abalado.
Uma pesquisa realizada apontou que quando uma pessoa falece a família precisa tomar cerca de 90 decisões importantes, que passam pela escolha do funeral até questões jurídicas.
Perder quem amamos e vivenciar o luto reflete na vida e na rotina de diversas formas.
O primeiro desafio é aprender a viver sem a pessoa que amamos, aprender a lidar com a ausência de quem amamos, quem vive o luto sabe o quando é difícil cada dia sem a presença física da pessoa.
Como se não bastasse, além da falta e da dor que essa ausência gera, também há todos os aspectos práticos dessa nova realidade.
Quem vai assumir os papeis que antes eram desempenhados pela pessoa que partiu.
Essas situações ocasionam transformações na vida da família é preciso aprender a viver de uma maneira diferente da que conheciam até então.
Lidar com a morte não é nada fácil.
Afinal, envolve uma série de sentimentos, mas é possível viver o luto e lidar com todas as questões que envolvem o luto de uma maneira menos angustiante.
Para isso é muito importante buscar ajuda especializada, você não precisa lidar com tudo sozinha, ter uma rede de apoio é fundamental nesse momento.
Buscar ajuda não demonstra fraqueza, pelo contrário, mostra a força que você tem para se cuidar e para pensar nas pessoas que ficaram e dependem de você.
Nossa missão é trazer um pouco de luz para esse momento de tanta escuridão, pegando na sua mão e te ajudando a percorrer esse caminho que infelizmente precisa ser percorrido com muito esforço.
Saiba quais são as principais questões burocracias que precisam ser resolvidas após o falecimento de uma pessoa amada
Atestado de óbito
Após o falecimento de uma pessoa o primeiro passo é obter o atestado de óbito, sem o qual nenhuma outra providência pode ser tomada em relação ao falecido.
O atestado de óbito é o documento que vai atestar o falecimento e a causa da morte.
Cerimonial de despedida
A escolha do local e forma da cerimonial de despedida pode ser feita por algum parente próximo de acordo com a vontade da pessoa falecida.
Nesse momento é extremamente difícil conseguir pensar e tudo, e conversar com os familiares mais próximos é algo que pode ajudar para definir questões do cerimonial.
Certidão de óbito
O Registro do óbito é feito no Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais da cidade do falecimento.
O serviço funerário deve encaminhar os dados da pessoa que faleceu para o cartório, entregando um protocolo a um dos parentes para a retirada da certidão no cartório quando estiver pronta.
A certidão de óbito é o documento definitivo do registro do falecimento, ele será entregue a um dos familiares, com a apresentação do recibo de protocolo que possibilita a retirada desta certidão no cartório, em até 5 dias úteis.
Documentos pessoais e contas bancárias
Com a certidão de óbito em mão é preciso realizar alguns procedimentos.
A Lei determina a obrigatoriedade de os serviços de registros civis de pessoas naturais comunicarem à Receita Federal e à Secretaria de Segurança Pública os óbitos registrados.
Em alguns estados, a Receita Federal procede a baixa do CPF automaticamente após a emissão do atestado de óbito, assim, o banco providência o bloqueio automático da conta bancária, sem que seja necessária por parte da família a comunicação do falecimento.
Mas é muito importante acompanhar e verificar se estes procedimentos foram realizados.
É importante verificar junto ao banco o encerramento de contas e documentos da pessoa falecida, para evitar que alguém venha a fazer uso de seus dados.
Vamos listar aqui alguns procedimentos básicos a serem adotados.
- Cancelar o RG e Carteira de Motorista
- Cancelar o Título de Eleitor
- Cancelar o CPF
- Averbação do óbito na certidão de casamento
- Encerrar Contas Bancárias
Inventario
No que se refere a questões sucessórias, se a pessoa falecida deixou bens vai ser preciso fazer um inventário.
O inventário é um procedimento para fazer o levantamento de todos os bens deixados pela pessoa falecida, bem como suas dívidas.
É por meio do inventário que os bens são listados, avaliados e divididos entre os herdeiros.
O inventário pode ser feito de duas formas, extrajudicial (feito em cartório) e judicial.
- Inventário extrajudicial
- Inventário extrajudicial
É importante saber que tanto para o procedimento feito pela via extrajudicial como judicial é necessário que seja feito por advogado.
Prazo para abertura de inventário
É bem importante que o inventário seja feito dentro do prazo de 60 dias, já que se não for respeitado esse prazo, infelizmente, será cobrada uma multa.
Pensão por morte
A pensão por morte tem como objetivo auxiliar financeiramente a família no momento da perda, este benefício é destinado aos dependentes da pessoa falecida.
A solicitação e o acompanhamento do pedido devem ser feitos diretamente pelo portal Meu INSS.
Para que você não tenha nenhum prejuízo financeiro o pedido deve ser feito dentro do prazo de 90 dias após o falecimento.
O pagamento mensal é feito pelo próprio INSS, após a comprovação da relação familiar ou a necessidade do recebimento.
Quem tem direito à pensão por morte
- Cônjuge ou companheira: comprovar casamento ou união estável até a data do falecimento;
- Filhos e equiparados até 21 anos;
- Filhos e equiparados inválidos: com invalidez confirmada por perícia;
- Pais: comprovar dependência econômica;
- Irmãos: comprovar dependência econômica e idade inferior a 21 anos, ou maior de 21 anos que tenham alguma deficiência,
Se você tiver mais alguma dúvida sobre este assunto, nós criamos um guia completo sobre pensão por morte, onde você pode ter acesso às informações detalhadas de como é feito o pedido, quem tem direito, quais os documentos, qual o valor do benefício, qual o prazo para fazer o pedido.
Você pode acessar este guia completo neste link https://bit.ly/guiacompletopensaopormorte
Estas são algumas das situações burocráticas que precisam ser resolvidas após a perda de uma pessoa amada.
Arrisco a dizer que perder uma pessoa é a experiencia mais difícil que podemos viver, porém é necessário a tomada de uma série de providências após o falecimento de alguém.
Nesse momento de tanta dor é totalmente compreensivo que você não queira, e mais do que isso, não consiga pensar em nada, muito menos em questões burocráticas, afinal de contas nada tem mesmo valor após perder quem amamos.
Mas infelizmente é no momento de mais fragilidade que a vida exige que você tome as decisões mais complexas e importantes, justamente para proteger você e sua família e evitar que além de toda dor que já existe vocês possam sofrer ainda mais por não tomar as providências necessárias nesse momento.
Estamos vivendo um momento em que diariamente famílias sofrem pela partida prematura de entes queridos.
E além do sofrimento sentimental que decorre da perda e da saudade, existe o sofrimento com todas as burocracias, processos judiciais, conflitos familiares que envolvem o fim da vida.
De coração, esperamos que este conteúdo possa servir de orientação para você nesse caminho que é tão silencioso e vazio, mas que não precisa ser percorrido sozinho.
Infelizmente não conseguimos arrancar essa dor de você, mas tenha certeza de que você não está sozinha nessa difícil jornada, busque apoio para lidar com o seu processo de luto.
Sinta-se abraçada e acolhida em sua dor.
Bibliografia:
CARDOSO DE OLIVEIRA, Camila. Ninguém está preparado para lidar com a morte de um ente querido. Acolher com amor, Agosto de 2021. Artigos. Disponível em: <http://acolhecomamor.com.br/ninguem-esta-preparado-para-lidar-com-a-morte-de-um-ente-querido/>.