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LUTO E LEGADO

PROALU - Programa de Acolhimento ao Luto

Foto: Mehmet Turgut Kirkgoz (pexels)

Por Ana Lúcia Naletto e Lélia de Cassia Faleiros.

Não fomos educados para conviver com a morte, e mesmo tendo consciência de que ela faz parte do ciclo da vida, tentamos ignorá-la ou, até mesmo fugir de tudo que possa lembrá-la.

Há um movimento da nossa cultura de interditar e desqualificar qualquer fala e pensamento sobre morte e morrer. No entanto, sabemos que a morte faz parte do desenvolvimento humano e precisamos compreendê-la melhor.

PARA REFLETIR

Gostaríamos de deixar algumas reflexões, que para muitos podem parecer fora de propósito ou inoportuno, mas para nós que lidamos com as famílias enlutadas faz uma significativa diferença.

1 – Você já pensou em que gostaria de deixar como marca de sua vida?

2 – O que você gostaria que escrevessem em sua lápide?

3 – Por quais histórias, feitos e memória gostaria de ser lembrado?

4 – Seus amigos e familiares sabem do que você gosta? Se morresse hoje, como gostaria que fosse sua cerimônia e sepultamento?

5 – Gostaria de ser sepultado ou cremado? Já disse isso para alguém?

6 – Quais objetos de valor sentimental, você deixaria e para quem?

7 – E seu patrimônio digital, quem você deixaria como administrador de plataformas como Instagram, Facebook, Twitter, LinkedIn, Tik Tok, WhatsApp? Que destino gostaria de dar às redes sociais?

Teríamos muitas outras questões para levantar, mas para você que chegou até aqui, ficam as perguntas para responder individualmente e em seu tempo. Só se lembrem que a vida é um intervalo entre duas datas: o seu nascimento e sua morte.

O tema morte nos convida à reflexão sobre a vida e sobre o que temos feito com ela.  Ter consciência da nossa finitude e impermanência nessa vida é o que nos permite compreender o verdadeiro significado da vida.

O que queremos é poder ajudá-lo quanto você não estiver mais aqui fisicamente. Por isso falamos nesse texto de legado.

O QUE É LEGADO?

Legado significa herança de cunho mais sentimental do que material, transmissão, patrimônio, testamento, o que é transmitido a outro, o que fica como lembrança, ou seja: uma vida que faça sentido, que tenha um significado e que possua uma direção.

Deveríamos ser lembrados pelas coisas que fizemos, que gostávamos e até pelas coisas que não gostávamos. Legado é aquilo que traduz quem foi a pessoa, como ela viveu, e como ela gostaria de ser lembrada. Dito de outra forma: legado é aquilo que se transmite dentro do coração de alguém, por isso ele é atemporal, por isso ele é a presença viva da ausência, é tudo aquilo que permanece e resiste ao tempo.

Um legado não precisa ser exuberante, ele só precisa representar quem nós fomos para as gerações que virão. Desta forma estaremos eternamente vivos.  Mas precisamos “em vida” deixar isso transparente, não como marca de mortalidade, ao contrário, como marca de imortalidade.

SOBRE O LEGADO DE VIDA

Quando falamos de Airton Senna, somos automaticamente impulsionados a pensar na genialidade de sua carreira e na humildade de sua pessoa. Quando falamos de Gal Costa ouvimos a sonoridade de sua voz. Esses feitos são heranças que ambos deixaram por toda vida e que não se apagarão jamais.

Embora não sendo famosos, deixamos sempre legados. Um apelido, uma comida que gostávamos, um filme, uma expressão falada repetidas vezes, uma mania, enfim seremos lembrados por algum feito. Ana Bacalhau, cantora Portuguesa, traz o seguinte refrão que define bem o que é legado “Que era, como era. Somos só memória à espera de não sermos esquecidos”

SOBRE O LEGADO DIGITAL

Muitos estudos e pesquisas vem sendo realizadas nos últimos tempos acerca do legado digital, ou seja: com o advento da internet, mídias sociais e mensagens eletrônicas a grande preocupação é como proteger, armazenar ou apagar esse acervo de informações que é patrimônio sentimental e pessoal da pessoa falecida e da família.

Nazaré. P. Jacobucci*, realizou um longo trabalho de pesquisa sobre as plataformas como Instagram, Twitter, Tik Tok, WhatsApp. A discussão gira em torno das implicações éticas sobre o destino desse legado digital. Segundo ela essa é uma polêmica discussão e pode gerar muitos conflitos familiares. O sujeito da pós-modernidade está vivendo alguns dilemas, como por exemplo: que destino dar aos seus ativos digitais.

A literatura apresenta 4 opções diferentes de acordo com as intenções do sujeito ao seu legado digital, ou por alguém responsável para tal tarefa. São elas:

1 – Fechar as contas,

2 – Transformar em um memorial,

3 – Transferir as contas para outra pessoa,

4 – Ignorar

Por fim e não menos importante, temos a exposição por terceiros de imagens não autorizadas pela família. Nazaré. P. Jacobucci* “discute em sua pesquisa sobre o quão complexo e delicado se você não é um familiar próximo da pessoa que morreu, você precisa ter muito cuidado ao expor a imagem e o motivo da morte desta pessoa em sua mídia social. Essa atitude de compartilhar a morte em plataformas virtuais, pode acarretar agravos no processo de luto do familiar que perdeu um ente querido”.

É desse lugar de memórias e histórias que eternizamos nossos amores, justificando inclusive nossa saudade que tem nome e sobrenome.

 

Ana e Lélia são psicólogas especialistas em luto e família, fundadoras do Centro Maiêutica de Psicologia e autoras do baralho Ressignificando Perdas e luto, Editora Vetor.

Referências:

* Jacobucci.A.N.P Legado digital: conhecimento, decisão e significado – viver, morrer e enlutar-se na era digital Ed Appris/2023

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