Luto Traumático
PROALU - Programa de Acolhimento ao Luto
“Um luto marcado pela violência na escola”
por Sandra Evangelista
Será mesmo o fracasso escolar uma questão do aluno? Será justo culpabilizar a família pelos maus resultados? É culpa do Estado? A culpa é de quem? É preciso compreender que quando se fala em processo de ensino-aprendizagem estamos falando de relações, sentimentos, sentidos, motivações, identificações e significados. Há uma dimensão subjetiva nas experiências educacionais.
E quando falamos sobre violência na escola?
Será violência um professor que é desvalorizado, que lida com novas demandas e novas formas de conhecimento sem que haja políticas públicas que o auxilie, que o prepare e o proteja?
Será violência o desânimo do professor, suas faltas sem justificativas e o seu despreparo diante do desinteresse do aluno?
Será violência uma escola sucateada, depredada e roubada?
Será solução para a violência os muros cada vez mais altos ou colocação de grades? Ou será que a solução mora no diálogo?
A violência é simbólica quando as melhores chances são para os alunos de classes sociais mais altas, com bagagens culturais dominantes. A violência se dá na exclusão.
O professor é violento quando se submete ao sistema burocrático que se sobrepõe à pedagogia. Há um poder invisível, uma concordância com as normas. O aluno que se opõe às normas é taxado de indisciplinado e desrespeitoso.
A maior violência está entre eles, entre os alunos, com xingamentos, violência física, ameaças. O bullying se faz presente e tem caráter de humilhação e crueldade.
Os professores sentem medo dos alunos, alguns deles vão armados para as salas de aula, outros vão sob efeitos do uso de substâncias.
Ambientes sujos e malcuidados são violentos? Já que é público, não é de ninguém, então agimos com mais violência e criminalizamos.
O professor responde ao aluno de forma agressiva e intolerante, faz comentários pejorativos e causa constrangimentos. Será que o professor é violento?
A violência precisa ser contextualizada no meio socioeconômico, cultural e político.
As brincadeiras são violentas, os conteúdos vistos são violentos.
Os pais que não aceitam críticas referidas aos seus filhos, que promovem discussões acaloradas, podem ser violentos.
Os jovens são mais agressivos na tentativa de sobreviver ao meio, já que não o sentem como acolhedor, mas como uma zona de guerra, que não lhe garante o futuro.
A exaustão é violenta!
Mas continuamos procurando os culpados. Quem são eles? A família? A condição social? A política? A economia? As instituições? Quem?
E uma criança quando morre por uma bala perdida? Uma professora que é atacada por um aluno armado em sala de aula? E quando as pessoas morrem em um ambiente que deveria ser seguro, um campo de boas experiências e aprendizados.
Quando temos uma morte inesperada, um evento violento como um assassinato na escola, temos um luto traumático, que é extremamente desorganizador, que coloca o indivíduo em situação de desamparo e intenso sofrimento, que abala suas crenças e pode comprometer gravemente o seu funcionamento diante da vida.
É um luto traumático e coletivo, que abre uma ferida e nos coloca na condição de miseráveis expectadores, passivos e reprodutores da violência.
Somos todos violentos porque só apontamos o dedo, mas continuamos produzindo discursos que não trazem as pessoas de volta, nós as perdemos. Elas, de fato, MORRERAM.
Estamos todos em luto!